Seis anos a ir a Paredes de Coura já dá para ter uma história com o festival. Em 2011, ano de estreia, aquilo chamava-se Ritek Paredes de Coura – acho que nunca ninguém chegou a perceber que raio era a Ritek. Teve Pulp (bem bom!), Kings of Convinience (foi maravilhoso), Crystal Castles (um vício meu da altura), Two Door Cinema Club (o anúncio da TMN andava na berra), Twin Shadow, Metronomy (aquele palco secundário a abarrotar), Omar Soleyman (um bom achado), You Can’t Win Charlie Brown (tinham acabado de surgir)…
Foi grande ano! Lembro-me que os Kings of Convinience andaram de barco no rio – não estava lá mas li no dia seguinte no jornal que era oferecido à porta do campismo. Lembro-me também do KFC e da Pizza Hut no recinto, com menus de 2/3 euros que incluíam bebida. Lembro-me das filas para ganhar DVDs do Jornal de Notícias ou phones da Antena 3. De me apaixonar pelo sotaque nortenho. Do ambiente descontraído e das pessoas simpáticas em qualquer parte – do recinto à vila, da praia ao campismo. Da subida íngreme até à tenda. Do Piruças.
Perguntam vocês: quem é o Piruças? É este cão amarelo, presença assídua na frente dos concertos do festival. Pelo menos nos primeiros anos. O que será feito dele?…
Perdoem-me a qualidade destas fotografias. Para 2011, isto era o melhor que se conseguia arranjar com um smartphone – neste caso, um iPhone 3G (de um amigo).
Em 2012, quis voltar ao “Couraíso” – sim, já lhe chamavam isso. Foi o ano de Ornatos Violeta, que se reuniram pela primeira vez em Paredes de Coura, antes de atacarem várias vezes os Coliseus de Lisboa e Porto. Foi também o ano de Kasabian, dEUS, Digitalism, Japandroids, The Whitest Boy Alive (ou seja, metade dos Kings Of Conviniente), Chromatics… Fora a música, foi o ano de uma chuvada intensa – que transformou o campismo num autêntico lamaçal e levou a uma busca desenfreada por guardas-chuva e capas. Surpreendentemente o comércio da vila adaptou-se e em poucos minutos estavam a chegar carregamentos “salva-vidas”. 2012 foi também o ano em que fiquei sem telemóvel – já era um smartphone – porque tive a infeliz ideia de o deixar a carregar numa banca e ir dar um salto ao recinto. Sim, foi estupidamente estúpido mas na altura pareceu-me porreiro.
Por isso, não tenho fotos deste ano (tirando um prato com massa que publiquei no Instagram). Este foi, para aí, o único ano em que levámos cenas mesmo de campismo – era uma trabalheira ter de lavar tudo a seguir, por isso abandonámos a ideia. (Em 2012, o festival teve a EDP como naming sponsor – o patrocínio durou apenas um ano.)
Faltei em 2013 por não ter conseguido férias. Voltei em 2014. O festival tinha pela segundo ano o nome Vodafone Paredes de Coura. Já se notavam algumas diferenças no espaço, como carrinhas de boleias entre campismo, recinto e vila. Nesse ano, houve Franz Ferdinand, Cut Copy, James Blake… e – claro, não poderia esquecer-me – Cage The Elephant.
Cage The Elephant foi um concerto memorável, logo no primeiro dia: tinha acabado de chegar ao recinto depois de tratar de umas cenas com o bilhete; não os conhecia na altura; e foi grande surpresa. O festival podia ter terminado ali que já ia satisfeito para casa.
Em 2015, houve Tame Impala, TV On The Radio, Slowdive, Father John Misty e Charles Bradley. Pela primeira vez, Paredes de Coura esgotou (acabei por pagar mais pelo passe por causa disso…), sinal de que o festival tinha virado moda. Notava-se que o campismo estava bem mais cheio que o habitual e que havia por lá muito pessoal que tinha vindo experimentar pela primeira vez os encantos naturais do Taboão… e a sua música.
Arranjar um bom sítio para a tenda não foi tão fácil como nos anos anteriores. Quem vive no Porto ou no Norte, costuma ir marcar lugar com dias ou semanas de antecedência. Para os de Lisboa, não é tão fácil. Aliás, chegar ao festival é já por si uma aventura: comboio de Lisboa até ao Porto, 3 horas; comboio do Porto até Valença, mais 2 horas; por fim, autocarro Courense de Valença até Paredes de Coura, mais meia hora. É quase um dia só para a viagem.
Em 2016, um episódio caricato: pude ver novamente Cage The Elephant – foi tão bom que fiquei sem conseguir andar. Mesmo. Depois do concerto, deixei de conseguir mexer a perna esquerda (dores infernais quando tentava andar). Os médicos do festival disseram-me que pode ter sido esforço resultado da inclinação do recinto. Resultado: perdi o último dia do festival, que teve Portugal The Man. Felizmente estava são no dia de LCD Soundsystem, que tinha sido o segundo dia. Foi muito bom, James Murphy. Obrigado!
E com isto chegámos a 2017. Seis anos já dá para conhecer os cantos à casa. O pequeno Super Coura é melhor que o Intermarché – mais rápido para aviar as compras, sem confusões. Carregar telemóveis? Na estação rodoviária, mesmo ao lado do Super Coura (também dá para ir lá à casa-de-banho). O melhor campismo é na “montanha” – tem de se subir um bocadinho, mas há sombra o dia todo. Praia? Não vale a pena, demasiada confusão.
Esta edição do Paredes de Coura foi, talvez, das que teve um alinhamento musical mais coeso, apesar da diversificação de estilos, registo ao qual o festival parece manter-se fiel. Tudo colou bem: os Future Island com a Kate Tempest, os BadBadNotGood com os Japandroids, o King Krule com os At The Drive In, os Foals com a Ty Segall. Como sempre, houve conforto no cartaz, houve surpresas e houve descobertas. Não vou a Paredes de Coura no papel de “conheço as bandas todas”; quero ser surpreendido, quero descobrir coisas novas.
(Por falar em 2017, já viram a reportagem analógica do Shifter?)
Desde 2011, o festival mudou muito sem deixar de ser ele próprio. A Vodafone deu-lhe uma estrutura segura. O campismo tem mais e melhores apoios (chuveiros, lava-loiças…) – nada a ver com aquilo que era há seis anos. Há carrinhas a dar boleias, há concertos secretos, há Governo Sombra na praia… Com a máquina de marketing da Vodafone, o festival continua a chegar a mais pessoas e novos públicos: está mais abrangente, mas continua a ser um evento discreto – com o seu tempo e espaço, e com pouco ruído no recinto. Isso é bom.
Até para o ano, Paredes de Coura!