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As pop-up

Temos de ser sérios de uma vez por todas. Portugal escreveu na sua estratégia nacional para a mobilidade ciclável o seguinte: até 2030, 10% das viagens nas cidades deverão ser em bicicleta. Faltam nove anos! Já Lisboa comprometeu-se com 66% de “mobilidade verde” até 2030, isto é, 66% de quota para o andar a pé, para a bicicleta e para os transportes públicos. Isto significa também uma redução em 28% das deslocações de automóvel na cidade. Faltam nove anos!

Temos de ser sérios. A maioria dos partidos concordou com estas metas, aprovando os documentos nos quais estão inscritas (ENMAC 2020-2030 e MOVE Lisboa). Parece-me, por isso, haver um consenso. Mas, se é para aumentar efectivamente as deslocações de bicicleta dentro de nove anos, é preciso agir hoje com programas, projectos e infraestruturas que permitam responder a esse objectivo. As metas não são para ficar no papel. Têm de ter significado prático. Aos políticos exige-se seriedade e consciência em relação ao que aprovam.

Nos últimos anos, Lisboa conseguiu aumentar a utilização da bicicleta na cidade (138% de 2017 para 2020) com a construção de uma rede de ciclovias, juntamente com um sistema de bicicletas partilhadas e outras acções. Muitas dessas ciclovias são de estilo pop-up, isto é, construídas com tinta, pilaretes e poucos recursos financeiros, em pouco tempo. Não são ciclovias perfeitas, mas o formato pop-up permitiu crescer uma rede num curto intervalo de tempo. E acho preferível termos 60 km de ciclovias, novas e em formato pop-up, em vez de apenas 20 km, ainda que impecáveis. E o que é pop-up pode ser, mais tarde, melhorado, assim que haja tempo e dinheiro para tal. E o que é pop-up pode ser, mais tarde, melhorado, assim que haja tempo e dinheiro para tal. Parece-me infantil e superficial o ódio ao pop-up sem avançar uma alternativa – sem esclarecer outra forma de criar uma rede abrangente, que chegue a toda a cidade, e funcional, que sirva em termos práticos para aumentar a adopção da bicicleta e responder às metas com as quais a cidade de Lisboa e o país se comprometeram.

Parece-me irrealista achar que se vai conseguir criar, num prazo útil e razoável, uma rede ciclável em Lisboa com obras de fundo, pesadas, caras e demoradas. Não somos uma cidade, nem um país com muito dinheiro.