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Medo

Almirante Reis, Carlos Moedas e o medo.

Em campanha, Carlos Moedas prometeu retirar a ciclovia da Almirante Reis mas fez essa promessa sem saber como poderia cumpri-la. Como o próprio tem dito, está agora na qualidade de Presidente de Câmara a pedir pareceres e a estudar alternativas. No fundo, Moedas está a tentar descalçar a bota que, na euforia eleitoral, calçou sem muita ponderação.

No meio disto tudo, uma manifestação em meados de Outubro levou um milhar de pessoas em defesa da ciclovia. Agora, numa petição com cerca de três mil assinaturas, entregue na Assembleia Municipal e que é a maior petição em Lisboa dos últimos tempos, pede-se que nenhuma ciclovia seja retirada sem que haja primeiro um debate participado e de futuro sobre o eixo da Almirante Reis. Por outras palavras, três mil pessoas pedem diálogo, querem ser ouvidas.

Voltemos à campanha. Carlos Moedas prometeu mais diálogo e construir a cidade com as pessoas. Está escrito no programa. “Se os políticos confiarem mais e envolverem mais os cidadãos, serão surpreendidos pela capacidade da comunidade em cuidar e preservar o seu espaço comum”, disse no seu discurso de tomada de posse. Foi um bom discurso, no geral.

No entanto, o Moedas Presidente tem desvalorizado quem defende a ciclovia. Tem dito que a manifestação de Outubro foi “partidária”, foi uma “instrumentalização política”. Estas afirmações, repetidas em diferentes contextos, chegam a ser insultuosas para todas as pessoas que tiraram algumas horas do seu tempo para se manifestarem, um direito consagrado na Constituição. A petição é também um direito que os cidadãos têm para serem ouvidos e espera-se que, desta vez, o Presidente Moedas não descredibilize este acto democrático. Que o respeite.

Aquilo que Moedas e outras pessoas do seu partido têm feito com a ciclovia da Almirante Reis é torná-la numa arma partidária, através de uma campanha constantemente baseada no medo. No medo de que a ciclovia pode desaparecer. Um medo alimentado por possibilidades, por estudos e pareceres em desenvolvimento, e por um anúncio que há de chegar um dia. Quem se desloca de bicicleta e principalmente quem passou a fazê-lo por causa daquela ciclovia, não sabe o que vem aí, não sabe se vai continuar a ter ciclovia ou até quando vai tê-la. Tem medo porque não tem respostas claras nem garantias. Tem afirmações que são usadas numa guerra ideológica.

Ora, alimentar medos e gerar inseguranças não me parecer ser o que Moedas, na sua campanha, prometeu. Antes pelo contrário. Prometeu “envolver realmente os lisboetas na gestão da sua cidade, permitindo-lhes a co-criação das políticas públicas da cidade e garantindo que a sua voz é ouvida de forma consequente nos processos mais relevantes”. Mas envolver não é assustar, não é desprezar formas democráticas de participação. É colocar-se ao lado das pessoas e quem se desloca de bicicleta em Lisboa também faz parte da cidade. Merece respeito.