
Quando um órgão de comunicação social deixa de publicar na web, todo o seu conteúdo pode desaparecer. É uma questão de tempo até o domínio deixar de ser pago ou o plano de alojamento ser cancelado, desaparecendo um importante acervo noticioso, social e histórico. Às vezes, esse órgão de comunicação social pode nem desvanecer, mas mudar de casa e tudo o que estava numa morada electrónica antiga desaparece. Quem não sentiu já a frustração de pesquisar uma notícia antiga e de não a encontrar? Ou de esse URL ir dar à actual página inicial?
Por isso, projectos como o Arquivo.pt da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia são tão importantes. E mais importante ainda é existir uma consciencialização colectiva em preservar a memória e em arquivar “com dignidade” o que representa a história de um determinado objecto temático no determinado intervalo temporal, que pode ser ainda muito recente.
O Corvo foi um jornal que escreveu sobre Lisboa entre Março de 2013 e Maio de 2019. As suas páginas digitais contavam a história da cidade durante esses seis anos e felizmente não desapareceram. O Samuel Alemão, jornalista, fundador do projecto, com quem conversei em Julho, tinha-me dito que a sua vontade era a de “preservar o jornalismo que foi feito”, porque “a memória não pode ser rasurada, ainda por mais neste tempo em que vivemos e em que há uma poeira digital”. Queria portanto preservar O Corvo “com dignidade”, porque, afinal de contas, os seus artigos jornalísticos também “são documentos históricos”.
O Corvo deixou de editar, terminou, acabou, mas permanece vivo agora através da sua memória no Arquivo.pt. Tudo: artigos, imagens, páginas inteiras. A história de Lisboa entre 2013 e 2019 não vai desaparecer e sobreviverá, assim, nesta web fugaz.