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Resiliência

A experiência de andar de bicicleta no Porto é terrível. Em teoria, a cidade concretizou várias ciclovias pop-up no contexto da pandemia e já tinha algumas feitas de antes, mas não existe uma rede que sirva a cidade e os seus diferentes pólos habitacionais, empresariais, educativos e de serviços. As ruas de sentido único transformam viagens que poderiam ser de poucos metros de bicicleta em grandes voltas. As múltiplas vias de trânsito no mesmo sentido, cada uma com a sua direcção, tornam a condução muito complicada para um ciclista, que, por ser mais pequeno, terá menos agilidade para andar a saltitar de via em via consoante a direcção que quer seguir.

O Porto é, claramente, uma cidade ainda muito pensada para o automóvel. Tem dado alguns sinais de que quer mudar mas está ainda muito, muito para trás. A quase inexistência de infraestrutura ciclável levará a que a bicicleta não seja uma opção para muitas pessoas, que, com ruas desenhadas de outra forma, poderiam considerar este meio de transporte. O Porto depende do carro porque o desenho urbano – restritivo e pouco inclusivo – convida a tal. Mas este modelo de desenvolvimento não só é desadequado ao paradigma de crise climática em que vivemos, como acarreta graves problemas do ponto de vista da saúde pública, deixa muito pouco espaço para as pessoas caminharem, brincarem, passarem tempo ou se refrescarem, e gera congestionamento sempre nas mesmas ruas e avenidas por mais alargamentos e optimizações que se façam.

O termo “resiliência” tem vindo a ganhar protagonismo no nosso vocabulário quotidiano. A palavra, que no seu sentido figurado significa “capacidade de superar, de recuperar de adversidades” (Priberam), tem vindo a estar associada à recuperação pós-pandemia do País, da Europa, do Mundo. Tem-se associado este conceito também muito às cidades: cidades resilientes são cidades mais fortes e capazes de responder aos desafios que aparecem à frente. As cidades vão ter de se adaptar nos próximos anos e passar por grandes transformações, e as cidades mais resilientes serão aquelas que começarem hoje a redefinir o seu espaço público.