Esta é uma história da hipocrisia climática que existe em alguns municípios portugueses e é a história também de um esforço cívico exemplar que ajudou a denunciar essa hipocrisia.
A Câmara Municipal de Coimbra (CMC) criou recentemente um plano para a cidade enfrentar as alterações climáticas. Outros municípios, como Aveiro ou Lisboa, também o fizeram ou estão a fazer. No entanto, ainda há bem pouco tempo, no início deste ano, a mesma Câmara que parece preocupada com as alterações climáticas decidiu terraplanar um terreno na margem do Mondego entre a Portela e o Rebolim, devastando toda a vegetação existente.
Fê-lo sem plano, sem estudo de impacto ambiental, sem dizer alguma coisa à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), sem envolver a população. Tinha apenas a ideia, no ar, de ali instalar um campo de golfe. Exacto, um equipamento conhecido por consumir uma quantidade absurda de água e por fazer uso massivo de pesticidas e herbicidas para manter os campos de relva verdejantes e imaculados!
Felizmente, formou-se um movimento cívico chamado “Mondego Vivo”, a partir de vários grupos e colectivos pré-existentes, que se mobilizou a tempo e horas para este tema e que promoveu, num espírito aparentemente muito claro e transparente, a oposição necessária à CMC. Realizou uma “assembleia pública”, fez uma denúncia que estará a ser investigada pela GNR, plantou árvores para ajudar a corrigir o problema e lançou uma petição que tem à data de hoje mais de 1,7 mil assinaturas, entre outras acções.
O esforço cívico surtiu efeitos, não só pelo mediatismo que o caso tomou, mas também porque levou a CMC a recuar, a admitir silenciosamente o erro e a decidir renaturalizar a margem do Mondego que destruiu. Será devolvida a diversidade natural que lhe é devida, e criado um percurso ciclopedonal para a população.
Mas com este caso a autarquia revelou muita coisa, incluindo que nada percebe de alterações climáticas. Convém começar a tirar as acções do papel. Combater as alterações climáticas não é construir campos de golfe (nem é criar rotundas verdes e floridas num país onde se esperam secas mais prolongadas e menos água).