Irrita-me as autarquias que enganam a União Europeia para terem fundos, e aborrece-me a falta de rigor da União Europeia na atribuição desse dinheiro. O exemplo que trago é apenas um exemplo.
Em Odemira, a Câmara Municipal decidiu requalificar a zona ribeirinha. Recebeu mais de 120 mil euros para esta obra, que custou 140 mil no total. No descritivo da intervenção, pode ler-se que o “objectivo principal” é “proteger o ambiente e promover a eficiência dos recursos” e melhorar “qualidade ambiental urbanística e paisagística da Vila de Odemira”. É referido também o seguinte: “Esta requalificação visa a criação de um espaço verde, de relativa dimensão, onde os usuários possam passear, onde as crianças possam brincar ou andar de bicicleta, correr na relva, fazer um piquenique, relaxar ou simplesmente desfrutar do enquadramento paisagístico que se pretende alcançar.”
Terá sido com estas balelas que a Câmara de Odemira terá conseguido os fundos europeus. Nada contra, porque o Alentejo bem precisa de dinheiro e de desenvolvimento. Só que há uma grande diferença entre criar um espaço verde a sério e criar um parque de estacionamento com um pedaço de jardim ao lado. O que a autarquia de Odemira fez foi o segundo, apesar de na descrição da intervenção, afixada no local e publicada online, não haver qualquer referência ao parque de estacionamento.
Quando o parque estiver aberto, os carros vão estacionar e passar mesmo ao lado dos caminhos pedonais, das mesas de pic-nic, da relva e dos bancos. Se Odemira precisava de mais um parque de estacionamento tendo um mesmo do outro lado do rio, duvido. Se a melhor localização para esse parque era a zona ribeirinha, duvido mais ainda. Se esta intervenção veio “proteger o ambiente” com mais carros à beira do rio Mira, então acho um profundo disparate. (Nota: a obra ainda não está concluída e há uma parte, pequena, que também fará do jardim.)