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(Des)confinamento

Viajar pelo país pode significar recuar no tempo e no desconfinamento. Em Odemira, por exemplo, mais parece 19 de Abril. O Verão começa tímido. Com o tempo a aquecer e as pessoas a desejar praia, a restauração esperava conseguir agora recuperar o tempo e o dinheiro perdidos.

O dono de um restaurante em Vila Nova de Milfontes, um dos poucos que arriscou abrir neste feriado de sol em que se tem de fechar à uma, diz-se ansioso com o negócio. A incerteza de tudo parece corroê-lo por dentro. As duas pessoas que contratou – convicto de que a situação iria melhorar este fim-de-semana com o Governo a rever em baixa as restrições – não chegaram a entrar ao serviço para o ajudar nas mesas. O take-away vai servindo para segurar alguma clientela, que por estes dias e numa vila balnear poderia ser muita. Em Odemira, o maior concelho do país, há a lamentar 14 mortes desde o início da pandemia. E os casos activos que correram as notícias no mês passado correspondem sobretudo a surtos localizados em campos agrícolas e num matadouro – é, pelo menos, o que se vai dizendo, porque a comunicação social já desertou daqui.

Em Odemira, salva-se de um lado, mata-se do outro. Com Lisboa em alerta sem nada mudar, a festa a poder fazer-se no Porto e quase 60% da população já vacinada, fica complicado o povo compreender o prolongamento das restrições. Tudo isto já mais parece uma questão política que de saúde pública.