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O meu gato

Enquanto caminhava na berma da via rápida, agarrado a ele, não parava de pensar na sorte que ele tivera em não ter sido esmagado por um carro. Abracei-o com mais força e seguimos em silêncio até casa.

Estas “auto-estradas urbanas” são lugares violentos. Não lugares, na verdade. São espaços de vertigem e passagem. Sítios inóspitos que desenhámos como armadilhas de tiro ao alvo. Foi um acaso – uma sorte, seguramente, conseguir ouvi-lo a miar, por entre o barulho dos carros que, a alta velocidade, abriam o seu caminho indiferentes. Eu seguia a pé. Primeiro, pensei ignorar o miado, mas logo depois vi o gatinho a tentar escapar de uma morte certa ou, pelo menos, de toda aquela violência que o circundava. Numa aberta, consegui atravessar a correr as três vias de trânsito, para lá e para cá. Tinha o gatinho nas minhas mãos.

Chama-se Luz e é agora o meu gato. Regastei-o vai fazer em Agosto um ano. Estava perdido ou abandonado, não cheguei a perceber e não me lembro de ver a sua mãe. Um ou dois dias, fui com ele ao veterinário para ver se estava tudo bem. Percebemos que ele teria um mês, se nem tanto. Demos-lhe um nome – porque era preciso um para o registo. Aquela clínica acolhia animais de rua e nem cobrava consultas se essa fosse a situação; infelizmente já estavam cheios, não paguei a consulta mas não podiam receber o pequeno. Foi azar, achei na altura. Não sabia bem o que fazer com este gatinho. Tinha-me afeiçoado a ele mas ao mesmo tempo fazia contas à responsabilidade que uma adopção representaria. Ainda procurei alguém que ficasse com ele.

Acabei por decidir adoptá-lo eu. Cuidar de um animal pode custar dinheiro, exigir tempo nosso e obrigar-nos a fazer alguns compromissos, mas, no final do dia, eles podem dar-nos muito e, por isso, vale a pena tudo o que lhes damos. Bem vistas as coisas, às vezes temos a sorte de encontrar luz nos sítios mais inóspitos e inesperados. Basta não sermos indiferentes.

(* pequeno exercício para a faculdade)