Estava a passar os canais e deparo-me com um título que dizia algo como “ofereça um animal no Natal”. Falava-se de animais de estimação como boas prendas de Natal para os mais novos. Acho bem preocupante esta leveza com que se fala da compra ou adopção de animais.
Ter um animal é, na verdade, uma grande responsabilidade e isto é algo de que me tenho vindo a aperceber desde que (conscientemente) decidi dar abrigo a um gatinho com cerca de um mês, perdido numa “auto-estrada urbana”. Um animal é um compromisso de longa data. Os cães e os gatos podem viver 13-16 anos; esse tempo é suficiente a nossa vida mudar muito e para as nossas condições ou interesses podem mudarem também. Tenho 27 e um gato com 5 meses que deverá estar comigo até aos 40.
Quando se acolhe um animal, deveria haver um qualquer processo de sensibilização dos futuros donos que coloque em cima da mesa todos os cenários, dificuldades e custos; não um desincentivo, mas algo que torne a decisão o mais ponderada possível. Um animal precisa de atenção, de passear, brincar, contactar com a Natureza – um animal também tem saúde mental. Os custos com alimentação e veterinária vão existir e são (estupidamente) taxados com IVA de 23%. Encontrar casa que aceite animais não é fácil – bem o sei da mudança para Coimbra; houve um projecto de lei para obrigar os senhorios a não negarem animais de estimação mas acabou vetado. Viajar com animais pode ser complicado – se uma CP os trata como passageiros, para uma Rede Expressos ou para uma companhia aérea eles são bagagem. Os animais não podem entrar na maioria dos nossos espaços. E as férias? Muitos alojamentos não os aceitam, os hotéis para cães e gatos são caros, e nem sempre é fácil encontrar um amigo com quem deixar o nosso amigo de quatro patas.
Ter um animal é uma responsabilidade, um compromisso. Na ausência de um maior alerta no momento de acolher um, cabe a cada um de nós ser conscientes no momento de desejar ter ou de oferecer um bicharoco no Natal. É muito difícil aferir as condições dos outros – dar um cão ou um gato é diferente de dar um peluche. Os animais não são descartáveis mas estima-se que sejam abandonados em Portugal 40 mil animais por ano.