Este excerto de uma notícia de hoje do jornal Público sobre a reformulação do espaço exterior ao Mercado de Arroios, em Lisboa, é paradigmático da dificuldade que é mudar uma cidade para melhor. O fenómeno costuma ser igual: sempre que se retira espaço ao automóvel em frente ao comércio, os comerciantes vaticinam o fim dos seus negócios até perceberem, por evidência empírica, que o fluxo de pessoas aumenta e as vendas também. Pergunte-se a qualquer comerciante da Rua Augusta ou da Avenida Duque d’Ávila se quer o automóvel de novo à porta.
O “parar por uns breves instantes” (a vulgar 2ª fila) é um comportamento retrógrado e que não existe à luz do Código da Estrada. Este hábito de deixar o veículo imobilizado com os quatro piscas no meio da estrada surgiu com o alargamento do asfalto e o convite ao uso desenfreado do automóvel nas cidades, e tem-se mantido devido à inércia das autoridades. A 2ª fila prejudica a fluidez do trânsito, atrasa os transportes públicos e piora a segurança rodoviária dos mais vulneráveis, nomeadamente o peão. Não, a 2ª fila não é um bom negócio.
Aumentar a área pedonal em frente ao comércio tem benefícios já comprovados em Lisboa e numa variedade de cidades espalhadas pelo mundo – o resultado costuma ser sempre este: mais pessoas a entrar nas lojas, mais vendas. Além disso, a mobilidade pedonal é a mais humana, universal e acessível de todas e deve ser a mais promovida num espaço urbano. Pede-se, uma vez mais, coragem à Câmara de Lisboa para que siga em frente com esta intervenção, num diálogo, talvez, mais próximo e argumentativo com os comerciantes. (E é preciso também eliminar esta ideia de fazer entregas com veículos pesados e migrar para uma lógica de micro-logística – não faz qualquer sentido entrar com um camião para dentro de uma cidade para distribuir produtos; os pesados devem ficar à porta da cidade e com veículos mais pequenos distribuir dentro da cidade.)