Uma história de discriminação.
A bicicleta é a ferramenta de mobilidade mais incrível de que dispomos. É pequena, barata, permite interagir facilmente com o exterior e serve várias idades. A bicicleta faz todo o sentido numa cidade onde muitas viagens são inferiores a 5 km e, se conjugada com transportes públicos, como o comboio, pode ser uma ferramenta ainda mais incrível.
A bicicleta já fez parte da paisagem urbana das nossas cidades; basta irmos aos arquivos ver fotos de antes de se ter convidado o carro a tomar conta desenfreadamente da área urbana, com as consequências nefastas que todos conhecemos: cidades altamente congestionadas e poluídas, onde se perdeu o conceito de espaço público. Quando se fala hoje da bicicleta, fala-se na verdade da sua reintrodução na cidade. Fala-se da democratização do espaço, permitindo que os diferentes modos de mobilidade possam coexistir em harmonia sem que exista um que domine e sugue tudo para si. Porque como alguém dizia, os declives são um problema tecnológico que as bicicletas eléctricas vieram resolver, a bicicleta pode ser reintroduzida em qualquer cidade. Se Lisboa conseguiu, outras também conseguem. Basta vontade e boa política.
Escrevo este pequeno texto a propósito do Convento São Francisco, provavelmente o “espaço mais Serralves” de Coimbra. Inaugurado em 2017 com um estacionamento subterrâneo de 4 pisos, este edifício público, financiado com dinheiro europeu, não oferece qualquer solução para bicicletas. No gigante subterrâneo existem lugares somente com um símbolo de uma bicicleta marcado no chão – prende-se a bicicleta ao quê? À entrada, também não existe qualquer estacionamento e, se improvisamos prendê-la ao gradeamento do edifício, dizem que não podemos porque (e isto já sou eu a supor) “fica mal” – eu acho que dá um aspecto cosmopolita a qualquer cidade.
É inconcebível que um edifício público, recente, desta natureza, não tenha qualquer infra-estrutura pensada para quem escolha a bicicleta. Espero muito sinceramente que o Convento São Francisco e a Câmara de Coimbra retifiquem esta situação discriminatória rapidamente – afinal, “Coimbra Cidade Sustentável” também passa pela mobilidade.