
Tinha 16 anos. Chamava-se Ana Oliveira e era basquetebolista pelo Sporting. Não sobreviveu ao embate de um automóvel que não terá respeitado o sinal vermelho, batendo-lhe enquanto ela, de bicicleta, atravessava com sinal verde. Não consigo ficar indiferente a esta situação.
É urgente discutir tudo isto publicamente. É urgente reconfigurar as cidades, humanizá-las, eliminar estas “auto-estradas” urbanas, acalmar o tráfego automóvel, criar mais áreas pedonais, mais ciclovias… É urgente mudar o discurso, colocar os jornalistas a falar disto com as palavras certas (não é um “acidente”, é uma “colisão” ou um “sinistro”)… É urgente fazê-lo não só pela Ana (que terá cumprido todas as regras numa avenida com 3 vias de trânsito de cada lado); é urgente fazê-lo por todas as 472 pessoas que perderam a vida no ano passado nas estradas portuguesas, pelas 2288 que ficaram gravemente feridas.
Quando um carro excede velocidades e passa vermelhos, pode realmente matar um inocente. Quando uma bicicleta ou um peão passa um vermelho, é muito pouco provável que magoe alguém. Quando uma pessoa de bicicleta se refugia no passeio, se calhar é porque tem medo da estrada. É urgente olhar com responsabilidade e assertividade para a cidade que temos e para a cidade que queremos. É urgente discutir os reais problemas e deixar as merdinhas de lado.
Os meus sentimentos à família e aos amigos da Ana – este estará a ser, sem dúvida, um momento muito difícil para todos vocês; não consigo sequer imaginar aquilo pelo qual estarão a passar…