Aqui no Alentejo litoral, como noutras zonas rurais do país, os transportes públicos não abundam e as populações dependem do seu carro privado para as suas deslocações. Olhando em volta, tudo o que vejo são vilas e aldeias conectadas por alcatrão, a pensar exclusivamente no automóvel.
Mas, sendo este Alentejo sobretudo plano, porque não apostar noutras formas de mobilidade como a bicicleta? Uma rede de ciclovias nesta zona poderia ajudar a introduzir a bicicleta nos hábitos das populações, para fins utilitários (ir às compras ou visitar um amigo) ou recreativos (um passeio no fim-de-semana). Apesar de as coisas aqui serem mais afastadas umas das outras, algumas distâncias continuam a ser bem aceitáveis de duas rodas. Por exemplo, do Almograve à povoação mais próxima, a Longueira, são uns 2 km, e até ao Cavaleiro, do lado oposto, são uns 7 km. Mesmo até Milfontes são perto de 12 km – por uma estrada nacional sem bermas que ter tanto trânsito (especialmente de pesados) que seria suicida fazê-la de bicicleta. A bicicleta poderia inclusive estimular o turismo na região, principalmente durante a época balnear.
Essa rede de ciclovias nem teria de ser uma rede de ciclovias propriamente dita, mas antes um conjunto de percursos partilhados por bicicletas e peões, acompanhando as estradas nacionais e municipais. Para tal, seria apenas preciso alargar ligeiramente estas estradas, que hoje nem sequer oferecem qualquer conforto ou segurança a quem se desloca a pé – e vêem-se muitas pessoas a fazê-lo, sempre em estado de alerta.
O desenho viário deveria ter abraçado desde o início diferentes modos de transporte, mas é possível corrigi-lo. Não se trata de abolir o automóvel, mas de entender que este não é um objecto acessível a toda a gente, seja porque não serve todas as idades, seja porque representa uma despesa anual de 4-6 mil euros. Trata-se também de estimular alternativas que promovam um estilo de vida menos sedentário e que não contribuam directamente para a poluição atmosférica. Para mim, soa-me só hipócrita ouvir Presidentes de Câmara preocupados com as alterações climáticas e depois não os ver assertivos com políticas de baixo custo e efeito imediato.