Começar um hábito novo é difícil. Quero escrever mais à mão. Colocar pensamentos no papel, partilhar alguns neste blogue e guardar outros para mim. Exercitar a caligrafia (que já viu melhores dias), não deixá-la morrer por causa de tanto escrever digitalmente hoje em dia.
Aos poucos e poucos tenho voltado ao papel. No início do ano, comprei uma agenda daquelas de capa dura. Depois de experimentar várias apps para listas de tarefas e de ter percebido que nenhuma resultava para mim, decidi experimentar uma alternativa fora do telemóvel. Uma agenda de carne e osso não tem duzentas funcionalidades que não vou usar, pode ser riscada à vontade, se cair não se parte e não fica esquecida entre todas as outras apps do meu telemóvel.
Depois comprei um Moleskine, um pequeno mimo a minha saúde mental; é nele que vou deixando o que faço e o que me vai na cabeça. Escrever ajuda-me a racionalizar os sentimentos, a colocar as frustrações em perspectiva e, em última instância, a decidir no que me focar e que batalhas escolher. Já tinha ouvido várias pessoas falarem sobre os seus cadernos diários e decidi experimentar também. Tendo em conta tudo o que escrevo profissionalmente e aquilo que publico online por lazer, senti que a minha vida precisava de um espaço recatado onde pudesse dizer aquilo que quero que só eu leia.
Por fim, arranjei um terceiro espaço de escrita. Outro caderno – este já o tinha lá por casa, é um Mishmash, a Moleskine portuguesa. Quero usá-lo para escrever crónicas como esta, umas podem vir parar a este blogue, outras – quem sabe – ao Shifter, e outras ainda podem não ir a lado nenhum. Um caderno é portátil, não fica sem bateria, não se estraga com os grãos de areia da praia, nem manda aquela luz azul prejudicial aos olhos. Um caderno não tem outras apps a sussurarem-nos desculpas para adiarmos este texto, mensagens a espreitar no topo ou notificações a distraírem-nos a qualquer momento. Além do mais, quando escrevemos à mão, estamos focados apenas nisso e parece que as ideias fluem simplesmente e que têm mais corpo.
É neste caderno que estou a escrever este texto para depois passá-lo computador e publicar neste blogue. Espero que seja a primeira de uma série de crónicas a publicar semanalmente (ou quando a inspiração fluir) aqui. Não sei honestamente que caminho é que isto irá tomar, até porque sinto que a minha escrita está muito perra neste momento; precisa de se libertar e estes textos serão também um exercício criativo para mim. Vou procurar agarrar um estilo próprio e tenho ainda de descobrir qual. Irei pegar em assuntos do quotidiano e partilhar convosco o que observo, às vezes, no tédio do dia-a-dia. Os textos podem ser mais narrativos umas vezes, outras mais reflexivos. Mas olho para isto como uma espécie de podcast escrito.
Acho que os tweets e posts de redes sociais nos limitam o pensamento por causa daqueles limites de caracteres ou pela forma como os conteúdos são lidos naquelas plataformas – a uma azáfama comparável ao de uma cidade. Ao escrever neste caderno, estou no campo. Quero ter a calma e o tempo que o campo tem, aquele respirar fundo. Sem pressões nem preocupações com isto ser visto ou lido. Pode ninguém ler que vou continuar a escrever no caderno e publicar aqui. Vou ser livre dentro da liberdade que a nossa língua portuguesa me dá.
Já perdi a conta às vezes que adiei este espaço e às desculpas que arranjei antes de terminar este primeiro texto. Como qualquer novo hábito, o difícil é arrancar e os primeiros tempos são os mais desafiantes. Espero não perder a motivação, ganhar ritmo e que isto seja um começo.
Até logo.