Avançar para o conteúdo

Benfica criativo

Há uns dias, no Shifter, perguntava: que nova Lisboa queremos?

Está a nascer em Benfica um mega empreendimento habitacional para classe média-alta, no espaço de uma antiga fábrica. O sítio tinha sido comprado em 1998 e só no ano passado é que as demolições começaram. Nesse “avança e não avança”, instalou-se ali o MU Workspace, um espaço de cowork destinado às indústrias criativas. Estávamos em 2012, não havia grande oferta do género em Lisboa, muito menos numa freguesia periférica como Benfica. O tecido empresarial estava, como está hoje, concentrado nas zonas centrais da cidade – e esta centralização não é afecta só às empresas mas a tudo o que as circunda: conferências, debates, lançamentos, festas…

Tenho vindo a ter algumas conversas sobre descentralizar Lisboa, isto é, sobre espalhar a criatividade, os pontos de interesse, os eventos… mais pela malha da cidade em vez de centralizar tudo nos mesmos pontos. Zonas como Benfica podem ser bem mais que meros aglomerados de prédios, e hoje Palácio Baldaya mostra-o. O Baldaya é uma excepção numa freguesia carregada de asfalto, betão, marquises e cantos mortos. Muitas vezes tento empurrar pessoas para cá, não só para virem conhecer este pequeno jardim e espaço cultural, mas principalmente para organizarem aqui os seus debates e festas. É que isto até é um sítio privilegiado: está a 10 minutos do comboio que permite chegar num instante a Entrecampos, Areeiro, Rossio, Alcântara ou Oriente – ou seja, a pontos-chave.

O Baldaya poderia muito bem ser aquilo que o MU Workspace foi antes de ter sido empurrado para a Alta de Lisboa – um pólo criativo em Benfica, uma espécie de “novo LXFactory”. Um campus para artistas e negócios nas áreas criativas, com ateliês e estúdios, mas também com comércio de rua. Tudo ajardinhado em redor, e sem carros, com espaço para pequenos concertos ou mercados de bairro. É que área não falta: o Baldaya de hoje resultou da reabilitação de uma PEQUENÍSSIMA parte de um antigo laboratório de veterinária. O resto do terreno – a maior parte dele – está ao abandono.

Todavia, o mais provável é ser ser tudo vendido para mais habitação XPTO. O Baldaya continuará a ser uma pequena excepção.

Etiquetas: