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Gente Que Não Sabe Estar

É uma pena que a TVI “enfie” o Gente Que Não Sabe Estar no meio do seu noticiário em vez de lhe dar um espaço próprio na grelha.

Tem sido seguida por parte das televisões generalistas portuguesas, sobretudo as privadas, uma estratégia de estruturar a sua programação em grandes blocos. Os programas da manhã e da tarde condensam rubricas de culinária, rábulas criminais, dicas de decoração, casos de vida… Tudo e um par de botas cabe ali, num só programa. Esta táctica prende os espectadores, que mesmo que queiram só ver uma coisa ou outra, ali ficam para o programa todo; e está agora a chegar à informação.

Tanto para a SIC como para a TVI, o noticiário das 20 deixou de ser um mero apanhado da actualidade do dia – do “país e o mundo” – e tornou-se também ele um gigante bloco na grelha onde tudo cabe. Há polígrafos da verdade, grandes reportagens repartidas em vários episódios, Moura Guedes e Sousa Tavares a seleccionar as notícias que vão para o ar e a comentá-las, Paulo Portas a fazer apanhados do que se passa no mundo, debates conduzidos pelo Eduardo Moniz, ‘casos de polícia’, uma Conceição Lino a perguntar “e se fosse consigo?” e até um Ricardo Araújo Pereira a fazer humor.

Gente Que Não Sabe Estar é a grande aposta da TVI no seu ‘telejornal’ do domingo. Um dia forte em que a estação lança também o trunfo Portas e em que a SIC joga com o seu Marques Mendes.

Gente Que Não Sabe Estar não é a primeira rubrica humorística que a TVI apresenta no Jornal das 8. Em 2014, Ricardo Araújo Pereira teve um programa a seguir ao noticiário com Miguel Guilherme, o Melhor Do Que Falecer, e que dois meses depois da estreia foi integrado no Jornal das 8 – a TVI nunca o admitiu mas especulou-se que a decisão tenha estado relacionado com as audiências do programa, que ficavam abaixo das do ‘telejornal’ que o antecedia e da novela que o sucedia.

Em 2015 a TVI voltou a apostar em Ricardo, que em ano de eleições legislativas voltou, desta feita com José Diogo Quintela e Miguel Góis – uma parte dos antigos Gato Fedorento – e Isso é Tudo Muito Bonito, Mas, uma espécie de “Esmiúça Os Sufrágios”, formato de sucesso de 2009 da SIC. O mesmo ‘erro’ não foi cometido: Isso é Tudo Muito Bonito, Mas fez sempre parte do Jornal das 8. Essa também foi a receita seguida com Gente Que Não Sabe Estar; e a rubrica é um sucesso numa TVI em queda de audiências – é visto em média por mais de um milhão de espectadores, liderando no horário em que é exibido.

Claro que o sucesso não deverá ser só da estratégia. Gente Que Não Sabe Estar é um bom programa e com argumentistas frescos. Conta com José Diogo Quintela e Miguel Góis, mas também com ‘malta nova’ da net e do Canal Q: Manuel Cardoso, Joana Marques, Guilherme Fonseca, Cátia Domingues, Cláudio Almeida e Insónias Em Carvão. É um programa gravado ao vivo, sendo que qualquer pessoa pode assistir se estiver por Lisboa aos domingos por volta do meio-dia e passar no Teatro Villaret (uma inscrição prévia é recomendada para garantir lugar mas não é necessária).

Mas voltemos ao ponto. Os noticiários televisivos em Portugal, principalmente os da noite, tornaram-se gigantes e densos. Há dias estava a ver um que terminou eram quase 22 horas, tinha começado às 19h58 (nunca percebi isto de se começar noticiários dois minutos antes das 20). E a competição entre SIC e TVI tem-se tornado cada vez mais evidente; os suplementos humorísticos, criminais, de fait divers… que as estações vão sucessivamente criando – com um olho sempre muito atento à concorrência – têm transformado os ‘telejornais’ sintéticos em ‘telerevistas’ ruidosas.

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