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Sumrrá

Sumrrá – o trio de jazz do pianista Manuel Gutierrez, do contrabaixista Xacobe Martínez e do baterista L.A.R. Legido – acabou por ser a surpresa do Évora Jazz Fest. São da Galiza, têm quase duas décadas juntos e seis discos. O último deles – 6mulleres – foi o que trouxeram a Évora (concerto que contou ainda com uma revisita e outra a álbuns mais antigos); são seis faixas sobre seis “mulheres poderosas que foram ou ainda são fonte de inspiração”: Frida Kahlo, Malala Yousafzai; Rosa Parks, Qui Jin, Nawal El Saadawi e Rosalía de Castro. É um disco com uma ideia muito engraçada e com uma concretização que segue a toada: o ritmo, a energia e o sentimento de cada música encaixam com a figura e personalidade da mulher que retrata. Retratar é um bom verbo aqui; a música capaz de se substituir à pintura e fotografia.

Se escutarem este disco no vosso serviço de streaming favorito, não vão encontrar a mesma experiência que ao vivo. É em palco que o baterista, L.A.R. Legido, se dá ao trabalho de testar os limites do jazz, experimentando técnicas que não estamos habituados a ver neste género musical. De repente há panelas a cair em cima dos pratos da bateria, uma fita adesiva daquelas grandes a ser esticada à frente do microfone, um balão a esvaziar e a produzir aquele som agudo…

E quando pensamos que já vimos tudo, eis que em cima dos tambores surgem bonecos de corda a produzir barulhos inesperados mas que, tal como tudo o resto, parecem fazem tanto sentido na música. Tudo o que o baterista metia em cima ou à frente da bateria parecia ter um propósito muito claro, cair no momento certo, ter o som que se esperava para aquela panóplia de improvisação. Ficámos todos de boca aberta; o público aplaudindo calorosamente aquela actuação cheia de força, dramatismo e criatividade.

Sumrrá provam que o jazz não é um conceito estático e que pode ganhar as formas que os músicos entenderem.

Texto completo sobre o Évora Jazz Fest no Shifter.