Hoje o Shifter faz 5 anos.
Há cinco anos tinha eu 20. Era muito novo, demasiado ‘naif’. Tinha um blogue chamado Hype onde escrevia sobretudo sobre tecnologia, inspirado em sites como o The Verge e o Mashable. No dia 25 de Novembro de 2013, esse blogue passou a chamar-se Shifter porque Hype era marca registada e o seu dono obrigou-me a arranjar outro nome. Não cheguei a ‘Shifter’ sozinho; na altura, apesar de o blogue ainda ser uma coisa muito minha, já o partilhava com alguns amigos e começava a nascer ali um projecto muito mais ambicioso.
O Shifter avançou devagar, muito devagarinho. Começámos a escrever sobre mais temas e mais regularmente, e a alargar a equipa; começámos a fazer reuniões, a estabelecer as primeiras parcerias, a ir às primeiras conferências de imprensa, a cobrir os primeiros grandes festivais de Verão, etc. De repente, tínhamos quase um milhão de visitas mensais. De repente, estava a viajar sozinho até Barcelona para cobrir um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, o MWC; a entrevistar o Peter Sundae, um dos fundadores do Pirate Bay, ou a conversar num bar em Lisboa com um dos criadores da Siri; ou a aparecer na capa da revista Exame.
Passaram-se um, dois, três, quarto, cinco anos. O Shifter de hoje é muito diferente do Shifter de 2013; e quando olho para trás vejo um conjunto de erros ingénuos, más decisões e conflitos desnecessários. Acho que faz parte do crescimento de uma start-up, mas sinto também que o projecto poderia estar num estado muito mais avançado se não tivéssemos perdido tanto tempo e energia nesses problemas – se eu, por exemplo, soubesse logo no início como trabalhar em equipa ou como gerir uma empresa de forma sustentada, definindo e prioritizando o importante.
O Shifter foi sendo um processo de aprendizagem contínuo, para mim e para todos. Experimentámos, definimos e redefinimos, fizemos de uma forma e depois de outra, até termos uma boa linha editorial, uma boa marca, um bom site, um bom plano. E mesmo assim não estamos satisfeitos, e por isso é que continuamos a duvidar e a melhorar. Aprendemos quais as chatices de ter uma empresa, como os IVAs e os IRCs; aprendemos muito sobre a internet e a nossa comunicação social; aprendemos a definir estruturas, processos, estratégias.
Acima de tudo, ao longo destes cinco anos, não me posso esquecer de todas as pessoas que conheci e de todas as amizades que fiz com o Shifter – desde todos os que estiveram na fundação do projecto (o Dordio, a Rita, o Alexandre, a Carolina…) a todos os que em algum momento fizeram parte dele, escrevendo, fotografando, programando, gerindo, etc. O Shifter de hoje é resultado do esforço e trabalho de uma equipa incansável ao longo de cinco anos, dos contributos e das valências de cada um.
Em particular, não me posso esquecer de uma amizade especial. Ao longo destes cinco anos, o João Ribeiro foi o meu parceiro no crime. Ele tem dado tudo o que sabe e muita energia ao projecto desde o início. As suas ideias ajudaram a fazer do Shifter aquilo que as pessoas dizem que ele é hoje. Mas mais importante: ele acreditou em mim e nunca desistiu, mesmo quando esteve quase para o fazer. Nos projectos tudo tem a ver com relações, algo que também aprendi nesta jornada. Algumas dessas relações são mais falsas ou momentâneas, outras são fortes e valiosas. Aquela que eu tenho com o João encaixa no segundo tipo e toda a gente precisa de alguém que acredite na sua ideia em primeira instância, pois lançar uma start-up sozinho pode ser demasiado difícil e arriscado.
Nunca compreendi ao certo o que prendeu o João a isto, o que o fez acreditar em mim; não sei como é que mais tarde vou estar a explicar esta fase da minha vida, não faço ideia. Isto parece mais um daqueles acasos de sorte que acontecem uma vez na vida. Não é fácil que uma pessoa se disponha a ajudar e a criar algo em conjunto com outra, muito menos quando isso implica não receber um salário ao final do mês e ter de arranjar outras formas para subsistir durante muito tempo. Esta amizade e as outras amizades que fluíram no Shifter fizeram de mim um melhor redactor, um melhor colega, uma pessoa mais humilde, mais crítica e mais desperta para o mundo – tornaram-me menos ‘naif’, no fundo.
O processo de reconversão do blogue mais ou menos a sério num órgão de comunicação social mesmo a sério foi moroso. É fácil comprar um domínio e um servidor, instalar o WordPress e começar um site; é difícil decidir o que fazer com esse espaço, montar algo com qualidade suficiente para valer a pena, criar algo distinto de tudo o já existe ou possa nascer entretanto. Hoje, apesar de estarmos registados na ERC e de sermos por isso oficialmente um órgão de comunicação social (como qualquer outro), por vezes ainda não sentimos estar à altura de tal estatuto. Gosto de ser humilde nisto – ainda não sentimos o Shifter “no ponto”; falta-nos alguns ingredientes para termos uma marca editorial suficientemente forte, respeitada e reconhecida. Falta definirmo-nos melhor o Shifter, visual e estrategicamente. É nisso que temos estado a trabalhar e que vamos trabalhar até ao final de 2018.
Este último ano foi intenso. Começou com um crowdfunding, no qual angariámos perto de 6 mil euros. Lançámos uma nova marca e um novo site. Mudámo-nos para o sossegado e aprazível Palácio Baldaya, em Benfica. Entrámos na rede SAPO, ganhando uma fonte de receitas fixa e uma nova audiência. Voltámos a aprimorar a editoria. Foi um bom ano, se calhar o melhor, mas está na altura de arrumar a casa e assentar.
Acho que vai valer a pena.