Não consegui compreender todo o alvoroço em torno da reportagem sobre uma “rede de notícias falsas em Portugal”, que o Diário de Notícias publicou este domingo. A peça, que pode ser acedida aqui (protegido por paywall), expõe um conjunto de sites sediados no Canadá que, através das redes sociais, espalham mentiras e conspirações sobre a política portuguesa.
Mais que uma “rede de notícias falsas”, o que o DN expõe é uma armadilha de desinformação, dando especial destaque a um site – o Direita Política – e ao seu autor, João Pedro Rosas Fernandes. Pelo artigo, entende-se que, mais que criar uma sofisticada ‘máquina de mentiras’ online, a intenção de João é expor actos que entende serem sinais de corrupção política e outros casos que ele e as pessoas que colaboram com ele encontram e que vão ao encontro das suas convicções ideológicas.
O artigo do DN é importante, na medida em que a desinformação é um problema do jornalismo e das redes sociais. Despertar as pessoas para essa questão, consciencializá-las sobre a importância de verificar fontes e de questionar o que aparece nos feeds do Facebook, Twitter, etc, é fundamental para o bem estar social. A desinformação é um assunto demasiado sério para não ser falado. Contudo, o artigo do DN não é surpreendente, nem tão pouco a “rede” que denuncia poderá indicar – como li – que teremos num futuro próximo eleições conturbadas por fake news como noutros países.
A existência de sites de propaganda como o Direita Política e o recurso às redes sociais como motor de viralização não são novidade em Portugal. A desinformação corre nas televisões e nos jornais – o caso do estudo do Observatório Cetelem e da notícia da Lusa é apenas um pequeno exemplo. Algumas notícias são fabricadas, seja por partidos políticos, por poderes económicos ou por outros agentes interessados em que se adopte uma determinada perspectiva sobre um determinado tema. Compreender quem são os donos da nossa comunicação social é fundamental e, no que toca às redes sociais, há que saber criticar antes de partilhar e verificar as fontes – tudo para não sejamos uns “totós” que acreditam em comparações de salários mínimos, que os pilares do viaduto Duarte Pacheco estão em risco de ruir ou que Catarina Martins tem um relógio super caro só porque vimos 10 mil partilhas no Facebook.
A repetição faz-nos acreditar mesmo numa informação que desconfiamos ser falsa. A psicologia já estudou esse “efeito de verdade ilusória”. Se ouvirmos várias vezes uma mentira, somos tentados a dar-lhe plausibilidade. E 63% dos portugueses dizem receber a sua informação nas redes sociais. (…) Muitos utilizadores das redes sociais não parecem preocupar-se com o que separa as notícias (informação verificada, sujeita a regras) das simples alegações falsas.
DN