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Ouro, Incenso e Marvila

Ouro, Incenso e Birra @ Marvila, Lisboa – Janeiro 2019

Por que razão haveria de passar uma tarde e noite de sábado em Marvila? Não me interpretem mal: não estou a desvalorizar aquele bairro lisboeta, mas o facto de estar desligado da malha urbana (Bela Vista e Chelas são um intervalo urbanístico em Lisboa) e afastado do habitual circuito cultural da cidade faz com que seja uma zona tantas vezes esquecida e vazia. Não é que não existam motivos para se ir a Marvila, como concertos na Musa, os workshops na Fábrica Moderna, o Café Com Calma, os afters do EKA Palace, o Teatro Meridional, as exposições na Underdogs Gallery ou, claro, a Fábrica Braço de Prata. E apesar de não existir ligações de metro, há comboios e autocarros que comodamente encurtam distâncias em relação às áreas “mais centrais”.

Em Marvila e no Beato parece estar em crescimento um segundo bairro criativo e alternativo de Lisboa, depois de toda a dinâmica que se instalou ali para os lados dos Anjos/Arroios/etc. E não sabemos que impacto a transformação da antiga Manutenção Militar no sofisticado Hub Criativo do Beato terá em todo a zona, nas dinâmicas que já lá existem, no comércio, na habitação e na mobilidade. Vai Marvila começar a ser cool? As rendas vão subir naquela que é a freguesia mais barata de Lisboa?

Certo é que enquanto não há Hub, Marvila tenta chamar a atenção do resto da cidade e o festival que organizou no passado sábado, 12 de Janeiro, foi um convite para os lisboetas virem conhecer o bairro ou revisitá-lo. Vários espaços, da Musa à Fábrica Moderna, sem esquecer o Meridional, abriram as suas portas à música e à cerveja. O objectivo? Mostrar o que de bom Marvila tem para oferecer e ajudar, através da venda dos copos de cerveja, uma associação – neste caso a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM). O evento era gratuito e sem vedações; e com o copo podia experimentar-se uma “birra” das cervejeiras artesanais Dois Corvos, Musa e Lince. Não era por acaso que o festival se chamava Ouro, Incenso e Birra.

Para ouvir havia desde Samuel Úria a Reis da República, Trêsporcento, Sean Riley ou Madrepaz; concertos das três da tarde até perto da meia noite (seguidos por DJ sets), em vários espaços ao longo de uma rua – que deveria ter sido vedada à circulação automóvel para maior conforto e segurança dos “festivaleiros”. Espectáculos curtos, às vezes a cheirar a showcases, que permitiram por um lado obter um cheirinho aqui e ali de como anda a música portuguesa, enquanto se dava mais um golo e mais um dedo de conversa – sim, este era sobretudo um festival para beber cerveja, estar com os amigos e conhecer Marvila. Ah, claro, e também um festival para “deixar dinheiro” em Marvila, não fossem as tascas da zona estarem, à hora de jantar, cheias com a malta do evento. E com fila à porta.